O tempo desfaz-se

O tempo desfaz-se em vontades, em rotinas, em projectos, em verdades, em mentiras...
O tempo desfaz-se em sentimentos, em afectos, em desgostos. Desgostos silenciosos que se alastram, e andam de mão dada sem se falarem.
Já não somos o que queríamos, já não sou o que queria.
O tempo desfez a espontaneidade que é a moda enquanto crianças.
Desfez em pedaços, em lágrimas, em sorrisos em fugas e regressos.
A verdade, a confiança fugiu, as exigências não são as de criança.
Não são tão triviais como quando se partilhava uma brincadeira e já se era cúmplice.
Desfaz-se em vontades, em retratos...
O que restará sempre é a mesma noite, o mesmo copo, a mesma sede.
Num fim de festa, todos saberemos quem somos, mas por vezes mais vale nem lembrar...e perdemo-nos noutro sonho.
Quase que fomos o que queriamos.
Quase que somos o que queremos.
Quase que fugiamos mas voltamos.
Tudo se tem de abraçar e agarrar, vamos aprender a existir, a ver o sol nasçer.

Identidade

"Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes...tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Tu até me pode empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
-E dai? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não quero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir o meu coração.
Não me façam ser quem não sou.
Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente.
Não sei amar pela metade.
Não sei viver de mentira.
Não sei voar de pés do chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre."