Como uma gota de chuva

Estou cansada, exausta...
Farta que me cobrem todos e de tudo.
Do que fiz, do que não fiz, do que só tive intenção mas não fiz
Pagamos por tudo, somos escravos.
Estou cansada de ter de gerir, uma vida, e umas quantas agarradas...
Não quero ter responsabilidade em tudo o que aconteça ou que não aconteça
Tenho culpa de não falar com quem quis que eu não falasse, tenho culpa de mudar quando me pediram a mudança!
Tenho culpa de não ser a amiga perfeita sempre presenta quando a mim nem me consideram amiga (pelo menos amiga, significando, em grande parte confidente, cúmplice)...sou amiga de partilha de conservas de café!
Não quero ver mais o mesmo dia, e o seguinte igual!
Sentir a mesma falta de pessoas, sentir que há tanto para partilhar, para dizer, para descobrir e ficar pelas travessas perdida.
Não quero mais estes diagramas ternários que ainda são mais complexos de entender que a minha vida.

...e a ver a chuva a cair só penso em tornar-me uma gota, já sou mal-amada como a chuva o é por todos, mas pelo menos a gota cai de uma vez, cai no chão, espalha-se, evapora-se e mais ninguém a vê

como gostava de me tornar uma gota,
uma gosta que caiu no chão...

Rastos

Já só sinto rastos, rastos apenas em tudo.
Já não há vida, já não há sentimentos. Estamos na era do reciclável.
Está tudo em meu redor como um avião que passou. Olho para o céu e vejo o avião com toda a vivência que tem, com velocidade e penso a alegria que leva nele (as diferentes vidas e todas sempre em busca de algo novo, algo diferente, algo melhor que traga felicidade) mas vai rápido e passado um bocadinho, olho e o avião já passou, só vejo um rasto de fumo.
Sinto que agora só vejo o fumo na minha vida, nada tem mais a mesma alegria.
Tudo muda, não somos mais iguais.
Desço ainda a mesma avenida, mas já vomito as mesmas ruas.
Sinto que o rasto de fumo forçado não me apazigua mais, o mundo não gira a meus pés, já não há palavras amigas, vozes que me façam levitar.
Mais uma vez vou fingir que me vêm sorrindo.
Estiquem a mão para me segurarem e deixem-me cair, eu sei, já foram largando.
Só há restos em tudo.
Há cartas rasgadas, verdades omitidas, sentimentos camuflados.

Eu sei(...)

Hoje, ontem,...ando a pensar sobre as relações.

Sobre os amigos, sobre como é difícil manter laços.

Ao início é sempre tudo uma maravilha, as pessoas que estamos a conhecer são das mais interessantes, divertidas, cúmplices...
...e com o passar do tempo

...vem os defeitos, quanto mais vamos conhecendo, mais começamos a não gostar de isto ou aquilo, porque as pessoas já não estão tão preocupadas em fantasiar para agradar, começam a ser elas mesmas.

Não duvido que os outros sintam o mesmo em relação a mim.

O difícil, e o que faz toda a diferença é aprendermos a lidar com o pior de cada pessoa. A moldarmos-nos aos outros.

Tenho muito que aprender ainda, sou muito exigente com os outros, e deveria se-lo em primeiro comigo própria. Se todos fizéssemos isso era bem mais fácil...
Tenho o problema de não gostar de ser segundo plano, gostar de ter atenção (egocentrismos talvez!)

...mas na verdade nada gira em nosso redor, não vale a pena ilusões.
Temos que ser é tolerantes (difícil(?))

....é uma aprendizagem (...que custa).

E não vale a pena perguntar o que correu mal...os tempos vão e vêm, tudo se repete.

Vida

A meio de uma conversa, descontraída à hora do café, depois do almoço, surge uma frase, daqueles que encerram uma conversa...a vida é feita de aparências.
E fiquei pensativa...porque na verdade (e nos que o digamos) estou extremamente de acordo.
E mais todos nos vivemos de aparências, e infelizmente é só assim que muitos relacionamentos se vai mantendo. Não se diz isto, não se faz aquilo para parecer bem, para que se entendam. Lutar por verdades, por mostrar o que somos e como somos, não, não vale a pena.
E pronto, temos de saber viver com as aparências. E eu estou a aprender bem, e não gosto, sinto-me a desligar.
Estou cansada, desta vida assim, cansada de sofrer, quero dançar, ver a lua. Não gasto mais palavras, não posso maltratar o coração.

Cansaço

Não era bom que as pessoas não tivessem filtros? Era dizer o que viesse a mente, podia ser que aliviasse o que se sente.
Mas não, é sempre prudente pensar antes de agir.
Vivemos em função dos estereótipos do correcto.
Vejo tudo a andar, o mundo não parou...tic-tac, o dia corre, tic-tac, o tempo não funciona a meio-gás.
Parar para chorar para dar atenção ao que sinto? Acorda, o mundo não para!
E se estiveres a chorar uma certeza podes ter, ninguém olhou, nem por uma frincha para ti.
Porque e que as pessoas que nos fazem melhor também são as que nos fazem pior?
Vivo num mundo feito de cinismo, feito de mentira e omissões conscientes,sentidas e propositadas.
E se também fico assim? Há algum problema?
Espero ficar, ter as minhas defesas. E lá está o velho dito "o que não nos mata torna-nos mais fortes".
Vem sentar-te a minha frente....e diz-me o que pensas de mim. Cuidado não reajas a quente. Afinal quero alguns filtros...
Enfim, e é isto o dia-a-dia, recuos e avanços, voltar como se nada fosse.
E a rotina continua, não quero mais ler-te, nem desvendar nenhum mistério, o teu silencio pode ser um ponto final. Estou sempre a começar a ler um romance mas não saio do prefacio.
E é este o enredo: viver rodeada de imperfeições (sendo eu uma também)...crescer dia-a-dia, cair, levantar, voltar ao mesmo lugar, ficar no ar, cair desmaiada sem forças e aprender a ser mais forte!

Morri um pouco, mas ressuscitei, vivi outra vez.

Sentindo as palavras

"Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido... Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre...
Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nos e-mails trocados...
Podemos nos telefonar... conversar algumas bobagens. Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contacto tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo...
Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!!! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos...
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

Balançar

"Pedes-me um tempo,
para balanço de vida.
Mas eu sou de letras,
não me sei dividir.
Para mim um balanço
é mesmo balançar,
balançar até dar balanço
e sair..

Pedes-me um sonho,
para fazer de chão.
Mas eu desses não tenho,
só dos de voar.

Agarras a minha mão
com a tua mão
e prendes-me a dizer
que me estás a salvar.
De quê?
De viver o perigo.
De quê?
De rasgar o peito.
Com o quê?
De morrer,
mas de que paixão?
De quê?
Se o que mata mais é não ver
o que a noite esconde
e não ter
nem sentir
o vento ardente
a soprar o coração...

Pedes o mundo
dentro das mãos fechadas
e o que cabe é pouco
mas é tudo o que tens.
Esqueces que às vezes,
quando falha o chão,
o salto é sem rede
e tens de abrir as mãos.

Pedes-me um sonho
para juntar os pedaços
mas nem tudo o que parte
se volta a colar.

E agarras a minha mão
com a tua mão e prendes-me
e dizes-me para te salvar.
De quê?
De viver o perigo.
De quê?
De rasgar o peito.
Com o quê?
De morrer,
mas de que paixão?
De quê?
Se o que mata mais é não ver
o que a noite esconde
e não ter
nem sentir
o vento ardente
a soprar o coração."

Porque há momentos em que o coração balança...
...balança até cair e quebrar laços.

Existências

Sou fácil de chorar, difícil de não perdoar…fácil de sorriso, difícil de me entregar.
Tenho medo de me sentir abandonada, e necessito de afectos.
E nesta época de morte e ressurreição, de dualidade de sentimentos, pus-me a pensar…
Pensei naqueles assuntos batidos, naquelas perguntas que se tornam banais…o que é a fé? Para que existe? Será que eu sou crente em alguma coisa?
E só consigo chegar a um segmento de pensamentos ainda que um pouco delineados, cada vez se tornam mais marcados…
A morte é o fim, para mim, fim na sua plenitude.
Se durante a nossa existência acreditarmos em algumas coisas que nos dêem sentido a existência, então é nisso que devemos acreditar.
Se queremos pensar que a morte não é um fim, para ficarmos menos atormentados, então é nisso que devemos acreditar.
Se acreditarmos na existência do pecado e isso for um vinculo para sermos melhores, como cidadãos do mundo, com valores, pensando, não posso fazer isto ou aquilo porque é errado, porque é um pecado então é nisso que acredito…
Pouco importa se existe pecado ou não, se pensando que sim é uma maneira de controlar guerras, desavenças…e fazer paz.
Pouco importa o que chamem ao Ser em que acreditem, se esse Ser for o mentor de tudo o que for bom e suavizar a existência.
E podes continuar a caminhar a meu lado, mesmo sem falar comigo.

Tudo muda

Pensei...sim pensei muito, e estou contente. Tens razão já não te ligo tanto, e a ti também não, e digo-te sem receios, e que bom que é.
Sempre fui independente em muita coisa, mas quanto as relações afectivas, às amizades, sempre fui muito dependente. Não que seja mau, porque não o considerava, mas com o passar do tempo, com as distancias que surgiam comecei a sentir que não me trazia serenidade.
Foi complicado, exigia sempre mais, e queria receber o que dava... Comecei a sentir que nem sempre estamos a caminhar para o mesmo lado e que não devo exigir o que dou. Mas com o tempo, com o passar do tempo, que corre e não para, os sentimentos vão esmorecendo e o que era imutável muda. Acabo por perceber a dita frase " Tudo na vida muda, tudo tem o seu avesso".
Não mudou os afectos, mas tornou-os mais leves (à passagem do tempo,das rotinas, das ausências). Estão leves mas não são voláteis.

Valores(?)

Será que os valores presentes e incutidos nas pessoas mudaram? Ou sou eu que ando confusa e não acompanhei a mudança? É geral?
Agora mentir...é trivial (é como uma problema matemático em que obtemos uma solução trivial que de trivial não costuma ter nada).
Banalizamos o razoável por pequenas e meras coisas...mas quem mente, mente, seja por algo insignificante ou por algo grandioso.
E dizem-me "habitua-te que ao longo da tua vida, as pessoas vão ser assim contigo, já não existe verdade".
Se é assim é, eu vou-me habituar. Não há melhor maneira que ir batendo com a cabeça.
E é assim o novo mundo sem valores.

Quem sabe

Quem sabe eu vos quero bem, quem sabe eu não sou ninguém, quem sabe eu não sou quem queria ser, quem sabe eu nunca o vou saber, quem sabe eu sou bem melhor...
Quem sabe o medo é a minha cruz, quem sabe o medo é a minha luz...
Quem sabe eu não estou só a tentar desesperadamente uma razão para não seguir e parar...pois tudo se passa e eu a ver.
Todos nós somos actores de cinema, tens de mudar, tens de o fazer. Quero um tempo sem mentiras, sim eu sei, a verdade é como o sol e pode cegar.
Talvez por isso algo em mim me impede de amar o sol

Faz falta a chuva o frio o vento e em tempo assim, vale ouro o teu calor.
Tenho medo de cedo anoitecer, tenho frio e temo não o ter.
O que interessa o bem sem passar o mal, o que interessa esconder o mal.
Mas que um salto de um sapato gasto eu sinto que é o fim.

E o que eu queria mesmo era sair sem olhar para trás: bato a porta e é só para avisar "não sei quando volto"...mas nem da cama sai.
Mas quem sabe se um dia acaba aqui.

Ponto de equilibrio

Porque é que eu mudo?
Sinto tanto a fugir de mim...
Para onde foi a minha espontaneidade? e a frontalidade?
Queria escrever, opinar, falar, mas só sinto que não devo e sinto todas as possíveis barreiras. Não queria ser comedida em nada, queria definitivamente ser diferente.
Hoje sinto, penso, amo, odeio, tudo até a exaustão.
Mas não posso...porque já não sou como queria.

As tradiçoes

A época natalícia ainda agora acabou e já me apetecia sentir o cheiro da consoada de novo. O dia passado entre risadas e brincadeiras familiares...
Todos à molhada dentro da cozinha, o dia é passado a fazer os docinhos (todos típicos)...a lambuzarmos-nos, a ver quem fica com a colher de pau para lamber ou com o tupperware, e a reclamar para não se usar o Salazar para ficar mais restinhos.
Gosto de repetir todos os anos os mesmos hábitos, o decorar da árvore, o presépio, o musgo...o abrir das prendas todos a meia-noite.
O dia onde os cepos de lenha são enormes e a luz da lareira ilumina e aquece de uma forma tão acolhedora.
E é assim, há épocas que valem pela vida.