Rastos

Já só sinto rastos, rastos apenas em tudo.
Já não há vida, já não há sentimentos. Estamos na era do reciclável.
Está tudo em meu redor como um avião que passou. Olho para o céu e vejo o avião com toda a vivência que tem, com velocidade e penso a alegria que leva nele (as diferentes vidas e todas sempre em busca de algo novo, algo diferente, algo melhor que traga felicidade) mas vai rápido e passado um bocadinho, olho e o avião já passou, só vejo um rasto de fumo.
Sinto que agora só vejo o fumo na minha vida, nada tem mais a mesma alegria.
Tudo muda, não somos mais iguais.
Desço ainda a mesma avenida, mas já vomito as mesmas ruas.
Sinto que o rasto de fumo forçado não me apazigua mais, o mundo não gira a meus pés, já não há palavras amigas, vozes que me façam levitar.
Mais uma vez vou fingir que me vêm sorrindo.
Estiquem a mão para me segurarem e deixem-me cair, eu sei, já foram largando.
Só há restos em tudo.
Há cartas rasgadas, verdades omitidas, sentimentos camuflados.