Adeus

"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus."
Eugénio de Andrade

Porque este poema sincero, esta fusão temporal de sentimentos,sempre me inquietou.
Porque o silêncio no meu coração permanece.
E mais que tudo, porque o passado é inútil como um trapo.

Poema de um amigo

"Diz adeus às flores.
Diz adeus à areia.
Agarra o mundo nesta epopeia.

Que é a nossa vida.
A nossa alma feia.
Que deixa a santa comovida.
E o diabo gozando a sua ceia.

Diz adeus às flores.
Diz adeus ao mar.
Agradece todos os amores.
Agradece teres quem amar."

Por tudo o que significa!

Fada

"Tua figura suave
delicada
nem parece que vive, parece bordada,
- como a boneca de seda de um desenho
de uma antiga almofada
que eu tenho...

Teus gestos, teus embaraços
fazem lembrar finos traços
de uma filigrana,
e tão frágeis me parecem, tuas mãos, teus braços,
que nem sei se és de carne ou se és de porcelana...

Bonequinha de louça
linda moça,
tua alma é um fio de seda, estou bem certo,
e a minha imaginação
criou para o teu destino uma lenda encantada:

- jura que tu fugiste de algum livro
e que eras a ilustração
de uma história de fada!"

Porque é bom sonhar, entrar no mundo das fadas...

Como uma gota de chuva

Estou cansada, exausta...
Farta que me cobrem todos e de tudo.
Do que fiz, do que não fiz, do que só tive intenção mas não fiz
Pagamos por tudo, somos escravos.
Estou cansada de ter de gerir, uma vida, e umas quantas agarradas...
Não quero ter responsabilidade em tudo o que aconteça ou que não aconteça
Tenho culpa de não falar com quem quis que eu não falasse, tenho culpa de mudar quando me pediram a mudança!
Tenho culpa de não ser a amiga perfeita sempre presenta quando a mim nem me consideram amiga (pelo menos amiga, significando, em grande parte confidente, cúmplice)...sou amiga de partilha de conservas de café!
Não quero ver mais o mesmo dia, e o seguinte igual!
Sentir a mesma falta de pessoas, sentir que há tanto para partilhar, para dizer, para descobrir e ficar pelas travessas perdida.
Não quero mais estes diagramas ternários que ainda são mais complexos de entender que a minha vida.

...e a ver a chuva a cair só penso em tornar-me uma gota, já sou mal-amada como a chuva o é por todos, mas pelo menos a gota cai de uma vez, cai no chão, espalha-se, evapora-se e mais ninguém a vê

como gostava de me tornar uma gota,
uma gosta que caiu no chão...

Rastos

Já só sinto rastos, rastos apenas em tudo.
Já não há vida, já não há sentimentos. Estamos na era do reciclável.
Está tudo em meu redor como um avião que passou. Olho para o céu e vejo o avião com toda a vivência que tem, com velocidade e penso a alegria que leva nele (as diferentes vidas e todas sempre em busca de algo novo, algo diferente, algo melhor que traga felicidade) mas vai rápido e passado um bocadinho, olho e o avião já passou, só vejo um rasto de fumo.
Sinto que agora só vejo o fumo na minha vida, nada tem mais a mesma alegria.
Tudo muda, não somos mais iguais.
Desço ainda a mesma avenida, mas já vomito as mesmas ruas.
Sinto que o rasto de fumo forçado não me apazigua mais, o mundo não gira a meus pés, já não há palavras amigas, vozes que me façam levitar.
Mais uma vez vou fingir que me vêm sorrindo.
Estiquem a mão para me segurarem e deixem-me cair, eu sei, já foram largando.
Só há restos em tudo.
Há cartas rasgadas, verdades omitidas, sentimentos camuflados.

Eu sei(...)

Hoje, ontem,...ando a pensar sobre as relações.

Sobre os amigos, sobre como é difícil manter laços.

Ao início é sempre tudo uma maravilha, as pessoas que estamos a conhecer são das mais interessantes, divertidas, cúmplices...
...e com o passar do tempo

...vem os defeitos, quanto mais vamos conhecendo, mais começamos a não gostar de isto ou aquilo, porque as pessoas já não estão tão preocupadas em fantasiar para agradar, começam a ser elas mesmas.

Não duvido que os outros sintam o mesmo em relação a mim.

O difícil, e o que faz toda a diferença é aprendermos a lidar com o pior de cada pessoa. A moldarmos-nos aos outros.

Tenho muito que aprender ainda, sou muito exigente com os outros, e deveria se-lo em primeiro comigo própria. Se todos fizéssemos isso era bem mais fácil...
Tenho o problema de não gostar de ser segundo plano, gostar de ter atenção (egocentrismos talvez!)

...mas na verdade nada gira em nosso redor, não vale a pena ilusões.
Temos que ser é tolerantes (difícil(?))

....é uma aprendizagem (...que custa).

E não vale a pena perguntar o que correu mal...os tempos vão e vêm, tudo se repete.

Vida

A meio de uma conversa, descontraída à hora do café, depois do almoço, surge uma frase, daqueles que encerram uma conversa...a vida é feita de aparências.
E fiquei pensativa...porque na verdade (e nos que o digamos) estou extremamente de acordo.
E mais todos nos vivemos de aparências, e infelizmente é só assim que muitos relacionamentos se vai mantendo. Não se diz isto, não se faz aquilo para parecer bem, para que se entendam. Lutar por verdades, por mostrar o que somos e como somos, não, não vale a pena.
E pronto, temos de saber viver com as aparências. E eu estou a aprender bem, e não gosto, sinto-me a desligar.
Estou cansada, desta vida assim, cansada de sofrer, quero dançar, ver a lua. Não gasto mais palavras, não posso maltratar o coração.