Apetites

Hoje não me apetece ir a nenhum lado, apetece-me estar só como um cão sem dono.

Enroscadinha numa manta, em frente a uma lareira, a ler o livro mais banal possível.

Sim, o tempo la fora está atroz e eu aqui ouvindo a chova a cair penso se a chuva será lágrimas perdidas de romances fracassados.

O dia de hoje parece um mistério que eu não desvendo. Volto a página para trás.
Tenho medo de passar do prefácio.
Este medo de avançar as páginas (que já nem em papiro nem em pergaminho estão) pode ser um estigma de uma vida? de vivências?

Medito sobre isso.

Chego a conclusão mais disparatada e certeira. Sinto-me perplexa.
Gosto de rotinas na vida. Não gosto de passos grandes e mudanças. Gosto das banalidades do dia-a-dia e de repeti-las.
Gosto só de pequenos pormenores que surpreendam e mudem alguma coisa, mesmo que mínima.
Mas não tenho uma grande necessidade de procura incessante de algo novo e ainda indefinido. E é tão bom, transpassa a tranquilidade e a nossa própria condição.
A vida por si só é uma rotina, cíclica.

E agora em forma de despedida fecho os olhos (como fazem as crianças quando o pensamento lhes foge numa tentativa de o apanharem).

...Mas as vezes tenho desejos mais ousados.

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