Balanço

Julguei que seria tudo mais fácil, que nos mantínhamos contactáveis, presentes, até cúmplices.
Pensei que haviam coisas imutáveis, que nunca iriam chegar ao fim, mas não verdade, não valeu a pena prometer que o tempo não nos fugia das mãos.

Eu sei, fui eu que me emaranhai nos meus sentidos, que julguei que devorávamos para sempre o tempo.
Na verdade deixei-me devorar pela utopia de que há coisas eternas.
Os sentidos mudam, mas nada se tinha de desfazer. Mas agora já um escuro vem no horizonte, já a luz se perdeu do olhar. São tantos os caminhos que a saudade tem. Esses caminhos já estão despedaçados, já tiveram muitas batalhas.
Agora já não sei onde ainda vou convosco, o cansaço já ganha.
Será que o que nos somos já morreu? Nem sei se quero descobrir, nem sei se quero deixar a salvo esse lugar.
Tentar ficar só com as fotografias? as recordações? Não me chega. Hoje o tempo doí.
"Esta é só uma noite para me vingar
Do que a vida foi fazendo sem nos avisar
foi-se acumulando em fotografias
em distâncias e saudades
Numa dor que nunca acaba
e faz transbordar os dias"
No entanto houve caminhos que foram no mesmo sentido.
Tu caminhaste sempre comigo, e continuas a adormecer do mesmo lado que eu quando a noite chega. Tu que me ensinaste a sonhar, tu que estás lado-a-lado.
Outros tinham tudo para falhar, para naufragar, não eram consolidados e ainda assim não ancoraram, não foram para longe do meu olhar.

Recordar chega? Seguir o rasto? Para mim não. O tempo perde-se nas recordações e o rasto desaparece com a ventania.

Porque as vezes temos de olhar para trás, temos de fazer balanços.

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